PORQUE MÚSICA - PARTE SETE : INDO ALÉM DO GÊNERO MUSICAL
" Nossa música é uma ponte onde as pessoas podem se
encontrar, dançar, amar e criar. " Les Nubians
Quando eu decidi fundar EarthTones alguns anos atrás e me concentrar
mais no poder transformador da música e do filme para uma mudança
social posiitva, eu na realidade pensei que estaria me distanciando de
muitas áreas que estavam me sugando ou que estavam fora de alinhamento
com minha visão de mundo. Eu produzi alguns artistas de Hip Hop
bem sucedidos e trilhas sonoras naquela época, incluindo a trilha
original de Friday ( Sexta-Feira ) e In Too Deep ( Profundamente ), mas
eu imaginei que estaria fazendo menos destes projetos com minha nova visão
e comprometimento. Não me entendam de forma errada : os projetos
foram grandes experiências e os artistas são todos pessoas
boas; mas a natureza dos negócios estava se tornado no mínimo
desencantador.
Como gênero musical, Hip Hop frequentemente traz conotações
que não são compatíveis com a mudança social
consciente. Parece que os desafios da indústria tambem estreitaram
minha visão de Hip Hop, mas minha jornada revelou uma nova e plena
perspectiva, junto com muitas revelações inesperadas.
Quanto mais trabalho eu fazia ao redor do mundo, mais eu descortinava um
movimento que se erguia dentro da cultura global Hip Hop preenchida com
mensagens de empoderamento e unidade, expressada em todos os tipos de formas
musicais e abraçada por inúmeras nacionalidades ao redor
do globo.
Exatamente quando eu estava tentando sair da área do bagunçado
Hip Hop, com surpresa me senti atraído a me envolver nele novamente.
Fui recrutado por uma campanha patrocinada pelas Nações Unidas(
ONU ) para trazer consciência às vítimas deficientes
da guerra no Oriente Médio . Com o público alvo predominantemente
com idade inferior à 25 anos, o Hip Hop de tornou um gênero
musical da escolha. Tive a honra de colaborar com um artista inteligente
e consciente, o árabe Rayesss Bek em uma música e em um vídeo
musical que transmitia mensagens de empatia e unidade ao redor das 22 nações
que falavam árabe. Depois deste projeto, fizemos outros que incluíram
a Campanha de Consciência para Prevenção da AIDS para
adolescentes em escolas da periferia e um filme com Forest Whitaker sobre
o Furacão Katrina - mais uma vez envolvendo colaborações
de artistas do Hip Hop. A moda estava clara: Hip Hop havia se tornado o
maior movimento cultural musical para jovens em todas as partes do mundo,
fazendo com que fosse o canal mais eficiente para apoiar causas sociais
e mudar a Consciência.
Eu tinha certeza que não iria mais ter dor de cabeça produzindo
uma trilha musical de Hip Hop. Acredito que não havia aprendido a dizer " nunca
diga nunca" . Quando meu querido amigo diretor e escritor do filme Stomp
the Yard Robert Adetuyi me pediu para criar a trilha sonora do filme Beat
the World - um drama para adolescentes sobre turmas de dança se posiciando
por títulos na Competição Internacional de Dança
Hip Hop , eu precisei re-examinar meus objetivos e visão e ser honesto
sobre minhas crenças auto-limitadoras que evitavam que eu consolidasse
a criação da trilha sonora.
O filme de Rob era uma estória positiva de superar desafios e
perseguir sonhos. Filmado em quatro centros urbanos culturais - Detroit,
Berlin, Toronto e Rio de Janeiro , o filme não apenas trouxe talento
e perspectivas de locais ao redor do globo, mas seria distribuído
para público jovem em mais de 20 países. Eu abracei o filme
como uma outra oportunidade de mudar paradigmas sociais e inspirar os
jovens através da música e do filme, e ajudar a brilhar
uma luz mais positiva na cultura global Hip Hop.
Como parte da minha jornada e despertar contínuo, eu tive condições
de criar colaborações significativas entre vozes líderes
de mudança de vários países incluindo K´Naan
( Somália ), KRS-One (US), MV Bill ( Brasil ), Sway ( Inglaterra
), Nneka ( Nigéria ), Bajah e Dry Eye Crew ( Sierra Leone ), Talib
Kweli ( US ), Les Nubians (França ) e Ziggy Marley ( Jamaica )
. A Música tambem atravessou e abraçou estilos musicais
de vários gêneros musicais diferentes , mas todos sob a
mesma bandeira : " Hip Hop Global ".
Talvez nossa esperança em romper barreiras - ambas físicas
e psicológicas, é melhor resumida na música " Nação
Hip Hop" quando KRS-One e K´naan juntos proclamam : " Vamos
dançar até o hall da liberdade, quebrar as paredes - queridos
não precisamos mais delas. "
Hoje, estou trabalhando em outro filme centrado em jovens, mas desta
vez na China com novos epicentros para a revolução cultural
que está emergindo; e " Hip Hop " é a mistura
novamente, como um canal para envolver e unir público por uma
causa .
Embora os gêneros musicais possam ser úteis ajudando-nos a organizar
nossas bibliotecas de músicas, como quaisquer títulos - raciais,
culturais, artísticos ou espirituais, gêneros podem limitar o
potencial abrindo-se para visões globais e um maior sentido de conexão
pessoal.
A maioria das formações musicais que evoluíram em
movimentos culturais, enfrentam resistência pesada pelo menos no
começo. Nos anos 40 e 50, por exemplo, muitos tinham certeza que
iriam desfazer o título americano : Jazz como diabo. Nos anos
50 e 60, Elvis e outros foram presos por tocar Rock and Roll - outra " música
do diabo ". A explosão do Rock e o crescimento global dos
Rítmos e Blues ( R & B ) levavam mensagens de Consciência
e Mudança nos anos 60 e 70, criaram ainda mais medo nos corações
e mentes das forças reinantes. John Lennon foi colocado em uma
lista negra na América, enquanto artistas visionários ao
redor do globo estavam sendo exilados, incluindo os fundadores do movimento
inofensivo Tropicana no Brasil - Caetano Veloso e Gilberto Gil. Nos anos
80 e 90, em toda a Europa, danceterias e Raves foram fechadas pela polícia
e por pais temerossos - os discos eram as armas do medo. Hip Hop foi
entitulado o próximo inimigo do Sonho Americano - a arma musical
de destruição em massa que teria que ser ou destruída
ou invadida.
Milton Nascimento me contou uma história sobre ir alem do gênero.
Ele ficava frustado quando as pessoas tentavam dar nomes ao trabalho
que ele fazia na música e no mundo como um gênero musical
- Samba, Jazz, Bossa Nova . Ele finalmente se sentiu justificado quando
um dia em Paris, olhando para cima na marquis de seu concerto naquela
noite, ele leu :
" Hoje à noite : Miles Davis : "Jazz" e Milton Nascimento
: " Milton " .
Se nós olharmos para trás da história da música,
quer seja estejamos nos referindo ao Jazz, Rock dos anos 60 ou Hip Hop,
podemos ver que estamos claramente falando de algo que vai alem do gênero
musical. Além destes títulos, existem movimentos globais
que provêm modelos sociais e culturais para mudar paradigmas e
unir as pessoas para uma mudança positiva. Não me entendam
de forma errada ; ainda me vejo me comunicando com outros através
de títulos, entretanto eu tento me concentrar em minha própria
mente e trabalhar em romper com paradigmas antigos e limitadores que
nos separam uns dos outros - não apenas musicais, mas tambem aqueles
usados para raça, política, religião e cultura.
A Música tem o poder inato de atravessar barreiras, mesmo quando
nada mais consegue .
Música de qualquer gênero ainda é Música,
e as pessoas em todos os lugares ainda são seres humanos. Ao invés
de discriminar gêneros inteiros ou movimentos que não gostamos,
ou esteriotipar culturas inteiras, vamos nos concentrar em usar a Música
- todas as formas de música - para serem pontes entre estereótipos
, romper barreiras sociais e reunir as pessoas de todos os caminhos para
abraçar valores comuns de Paz, liberdade de expressão ,
empatia e respeito mútuo.